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CATETERISMO CARDÍACO - MEDOS E MITOS

Medos e mitos

A sobrevivência e evolução da espécie humana possuem relação importante com o medo, sensação que proporciona ao indivíduo um estado de alerta, receio de ser submetido a um evento que possa ameaçar sua integridade física e/ou psíquica.

O medo de realizar um cateterismo cardíaco está associado principalmente a estímulos mentais (interpretação, imaginação, crenças ou mitos). Trata-se de uma sensação universal presente em todos os pacientes e que pode ser amenizada através de informações adequadas, confiança no médico assistente (profissional que indica o exame), na equipe paramédica (auxiliares de enfermagem, enfermeiros...), na estrutura hospitalar (aparelhos adequados, UTI e cirurgia cardíaca) e no médico que realizará o exame (Cardiologista com formação em centro de hemodinâmica e Cardiologia intervencionista).

O pavor (exacerbação do medo) quando falamos sobre cateterismo cardíaco é em relação à complicação denominada morte. Analisando dados estatísticos, morrer é um evento pouco habitual em cateterismos cardíacos diagnósticos eletivos (exames agendados em pacientes estáveis, ou seja, sem “dor no peito”, sem “falta de ar”, com “pressão boa” e que “caminha sozinho”). Nesses casos, a morte ocorre em aproximadamente um episódio a cada mil exames. Podemos destacar ainda que, na maior parte dos casos, a morte acomete pacientes de alto risco cardiovascular, pacientes com múltiplos fatores de risco: infartos prévios, AVCs (“derrames”) prévios, idade avançada, diabetes, hipertensão arterial, doença renal, doença pulmonar, insuficiência cardíaca.

As complicações maiores: morte, infarto agudo do miocárdio e AVCs em exames eletivos (que não são de urgência / emergência) somadas têm incidência de aproximadamente 1%. Deve-se relatar que, em casos emergenciais - infartos agudos do miocárdio -, a taxa de complicações maiores é mais frequente, uma vez que esses pacientes já se encontram em estado crítico e com risco de morte muito alto. Podemos então refletir sobre interpretações eventualmente exacerbadas como: “muitos pacientes morrem após realizar cateterismo cardíaco”. Muitos deles morreriam sem o exame, do próprio infarto, e, principalmente, na ausência do exame.

Infarto agudo do miocárdio é uma doença muito grave, com alta mortalidade. É uma das principais causas de mortalidade no Brasil e no mundo. Muitos pacientes com infarto morrem antes de chegarem ao hospital. Das pessoas que vão a óbito por infarto, 40 a 65% morrem na primeira hora do infarto e 80%, nas primeiras 24 horas.

Em hospitais com centros de hemodinâmica 24 horas/dia (como os em que atuamos), o tratamento de escolha nas primeiras doze horas do infarto agudo do miocárdio com supra desnivelamento do segmento ST (infartos com obstrução total do fluxo coronariano devido “coágulo” de sangue) é a realização de cateterismo cardíaco emergencial seguido de angioplastia primária com implante de stent coronariano  (desobstrução do fluxo coronariano com aspiração de trombo intraluminal e/ou desobstrução mecânica com cateter balão, seguida de implante de endoprótese metálica). Essa técnica tem alta taxa de sucesso, principalmente se realizada nas primeiras horas do infarto e reduz estatisticamente a mortalidade.

Assim, a partir de informações, podemos questionar e entender que a morte é um evento final de uma série de fatores de risco e poucas vezes é uma complicação direta do cateterismo cardíaco.

Dr. Anderson Pedro Katsuo Saito
CRM/PR 20415 / RQE/PR 377